Fantasma
Outra vez aquela sensação de já o Ter visto noutro lugar. Um sentimento que veio antes de mim. Como uma herança dos mortos inscrita nas peças componentes do meu ser. Espantado olho para aquela imagem e vejo a sua decomposição como se tratasse de um eco de imagens que se iam esbatendo, no tempo, até se transformarem numa silhueta. Formavam uma fila, com uma etiqueta no pulso, entravam ordeiramente numa máquina que parecia ter chegado do futuro. À porta da máquina Ele, de olhar frio e distante, registava mentalmente a estatística dos que entravam num movimento penoso, de quem se sentia intimidado com a presença do que parecia um coleccionador de almas. Por curiosidade fui seguindo a fila, onde todos permaneciam calados. Quando cheguei à sua presença e o seu olhar me petrificou, o cérebro misturou as ideias com se de uma sopa de letras se tratasse. Outra vez aquela sensação de inexistência. De que tudo evolui numa atmosfera pastosa. Uma falta de energia avassaladora impede-me de fugir. Na matriz limpa da minha cabeça é inscrita uma ordem. Entra. De repente perco o medo. No interior, verifico que os que me precederam, estão deitados numa câmara ampla de forma organizada. Envolvendo a sua cabeça, brilha um círculo de luz azul. De mim aproxima-se um homem de branco com uma seringa na mão. Como um estrondo a realidade atinge-me. Tive um acidente. Vão-me tirar os meus órgãos. Será com anestesia?.